Apesar do anúncio de metas “anticrime”, violência cresce em Sorocaba

Lançado no início do ano pelo Governo Estadual com o objetivo de conter os índices de criminalidade, o programa de bonificações para policiais ainda não teve divulgadas oficialmente as metas a serem atingidas pelos servidores da Secretaria de Segurança Pública

(SSP) em Sorocaba. Se a intenção era manter estáveis ou até diminuir alguns indicadores, como o governo do Estado chegou a anunciar, o programa começou o ano em desvantagem: as estatísticas divulgadas pela SSP mostram que houve aumento de pelo menos cinco dos principais indicadores de criminalidade no município. Diante dos números, o Sindicato dos Investigadores de Polícia do Estado de São Paulo voltou a criticar severamente a proposta de pagamento de bônus por produtividade e cobrou benefícios efetivos para os policiais.
Em Sorocaba, nos primeiros três meses do ano, houve aumento de 85,71% do número de homicídio doloso (14 em 2013 contra 26 em 2014), de roubos em 16,35%, de roubos de veículos em 37,35%, além de furto 3% e furto de veículos 7,15%.

Há aproximadamente 60 dias, o Cruzeiro do Sul tenta, sem sucesso, mais esclarecimentos junto à Secretaria de Segurança Pública sobre o programa de bonificação em Sorocaba. Foram diversas ligações e solicitações por e-mail com pedidos de informações que possam informar a população sobre o programa. Os principais questionamento enviados foram: “Qual a meta a ser cumprida pelos policiais de Sorocaba?”; “Por que foram fixadas metas para alguns tipos de crimes e não todos?”; “Qual o critério para escolha desses crimes (homicídios, furtos, etc.)?”; “De que forma as polícias Civil e Militar podem reduzir o número de homicídios?”

No entanto, após quase dois meses, a assessoria de comunicação limitou-se a informar, por e-mail, que a “SSP irá divulgar as metas oportunamente”.

Sem informações da Secretaria de Segurança Pública do Estado, o Cruzeiro do Sul entrou em contato com os representantes da Polícia Civil de Sorocaba para a análise das estatísticas da criminalidade no trimestre, mas a informação foi que todos foram orientados a indicar a assessoria de comunicação para falar sobre o assunto.

Desde o lançamento do programa, o único que falou sobre o assunto em Sorocaba foi o tenente-coronel Marcos Antônio Ramos, comandante do 7º Batalhão da Polícia Militar do Interior (BPM/I). Em entrevista ao jornalista Fernando Guimarães, exibida em 17 de fevereiro deste ano pela TV Jornal Cruzeiro do Sul, o oficial da PM comentou: “Essa é uma questão que vem sendo trabalhada pelo Estado já há alguns anos. Como você mesmo colocou, a única dúvida seria como ele (o projeto) seria aplicado, quais seriam os requisitos. E as metas que foram estipuladas me parecem bastante razoáveis. No entanto, não é fácil. Nós temos que efetivamente cumprir em consonância com o Estado, não é só a meta local, do município, mas também a meta do Estado. É por isso que realmente talvez não seja uma garantia do policial receber a bonificação, ainda que atendidas as metas locais. Porque se não atendermos as metas do Estado também haverá depreciação dessa bonificação”, explicou Marcos Ramos.

Questionado sobre as metas na região, o tenente-coronel afirmou: “Nós temos homicídio, nós temos furto e roubo de veículos, furto e roubo gerais (as demais ocorrências de furto e roubo). Então são ocorrências que muitas vezes, fogem ao nosso controle. Porque nós estamos trabalhando, nós estamos com o policiamento na rua todos os dias, dentro do limite possível inclusive, dentro da nossa capacidade operacional máxima. Eventualmente, surgem demandas que nós temos que utilizar parte inclusive desse policiamento que está nas ruas. É o caso, por exemplo, de uma atividade esportiva. Nós teremos daqui a pouco Copa do Mundo. Então tudo o que vem para somar nesse contexto acaba realmente interferindo na questão da segurança”, finalizou.

Dados estatísticos

Embora tenha se negado a falar sobre o plano de metas, a assessoria de comunicação enviou a seguinte nota para a redação: “O delegado Marcelo José Carriel Antonio, titular da Seccional de Sorocaba, informa que o aumento de roubos e roubos de veículo são crimes que cresceram em todo o país. No caso de roubo de veículos os casos aumentaram, proporcionalmente, ao crescimento da frota. Sobre os índices de homicídio, o delegado informa que janeiro foi um mês atípico, com boa parte dos casos envolvendo o tráfico de drogas e com características de execução. A maioria das vítimas registrava antecedentes criminais. Os dois casos de latrocínio que aconteceram na região já foram esclarecidos. Com dois presos em Itu e um preso em Sorocaba. Destaca também para o esclarecimento de latrocínio em 2013, 100%. A Polícia Militar prendeu 363 pessoas em flagrante e capturou 99 procurados da Justiça nos três primeiros anos. Além disso, recuperou 345 veículos roubados e furtados, e apreendeu 37 armas de fogo ilegais”.

Não há fórmula mágica

Assim como fez após o lançamento de programa, há pouco mais de dois meses, o presidente do Sindicato dos Investigadores de Polícia do Estado de São Paulo, João Batista Rebouças, voltou a criticar a iniciativa do Governo Estadual. “Policial não quer bônus. Eles querem salários dignos e melhores condições de trabalho. Como já disse antes, esse é um plano lançado para tapar o sol com a peneira”, critica Rebouças.

“Não temos policiais suficientes para atender a demanda e muitos são desviados de suas funções. Enquanto isso, vemos policiais sendo mortos como aconteceu aí em Sorocaba no final de semana, delegacias sendo invadidas como a Santo André, onde um médico foi morto e muitos outros casos, que indicam que o Governo deu as costas para a Segurança Pública.

De acordo com o líder sindical, o salário padrão de um investigador de 3ª classe é de R$ 1.192 (sem gratificações). “Com os benefícios, chega a R$ 2.900. É uma das piores remunerações da categoria no Brasil”, salientou.

Rebouças comentou ainda que o índice de crimes solucionados atualmente pela Polícia é de 4%. “Atualmente, a Polícia Civil, que deveria realizar um trabalho de inteligência, faz tudo, menos solucionar crimes. Por isso, digo que não adianta inventar fórmulas mágicas como essa. Precisa de investimento real no setor de segurança”, complementa.

Preocupação

O presidente da Comissão dos Advogados Criminalistas da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de Sorocaba, Alex Sander Gutierres, considera bastante preocupante o aumento da violência em Sorocaba, no 1º trimestre, principalmente, ao analisar o aumento de ações mais violentas como homicídios e roubos.

Na sua opinião, além de falta de investimentos no combate à criminalidade também não há uma política educacional para crianças em situação de risco.

“Claro que precisa investir na polícia, mas não se faz segurança pública apenas com ações de combate. É necessário oferecer educação de qualidade para as crianças, que hoje já nascem na criminalidade. Por intermédio dessa operação inversa, poderemos reverter esse quadro à médio prazo”, sugere o advogado.

O aumento do tráfico de drogas, enfatiza Gutierres, com a presença cada vez mais constante de crianças e adolescentes, é a causa principal do aumento da criminalidade. “A sensação de impunidade está ligada ao crescimento da criminalidade, com uma somatória de indivíduos que alimentam esse sistema. Por isso, além de educação de qualidade, é preciso fortalecer as famílias. Porque não adianta também combater o crime e oferecer educação, se dentro de casa as crianças não recebem apoio”, afirma.

Para concluir, Gutierres defende uma política mais efetiva de investimentos para o aumento do efetivo e dos equipamentos, com a valorização dos policiais. “É preciso dar condições dignas de trabalho aos policiais”.

Fonte: www.cruzeirodosul.inf.br

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