Cartões clonados: Uma nova vítima a cada 15 segundos

Brasil está em 5º lugar em fraudes e o DF não escapa do crime

Ele abriu a conta e se deparou com um desvio de R$ 973. Em dois dias, esse foi o valor que golpistas gastaram do cartão

de Henrique Mendes, 26 anos, que parece ter sido clonado em um posto de gasolina de Ceilândia. O consultor de vendas não é a primeira, e provavelmente não será a última vítima. A cada 15 segundos há uma tentativa de fraude de cartão de crédito no Brasil e isso coloca o País no quinto lugar do ranking mundial.

Henrique é um dos 33% de brasileiros que já sofreram alguma modalidade de golpe. O principal é justamente a clonagem. Nos últimos cinco anos, um em cada quatro titulares de cartões foi lesado.

Segundo pesquisa da provedora de soluções de segurança em pagamentos ACI Worldwide, os brasileiros são os que mais facilitam a ação de criminosos. Em 2013, o número de fraudes cresceu 5,9%.

No DF, a Secretaria de Segurança não tem dados recentes sobre a atuação dos fraudadores. Mas o delegado da Divisão de Falsificação e Defraudação (Difraudes) da Polícia Civil, Joás de Souza, ressalta que “certamente a maioria das investigações dizem respeito a cartões clonados”.

Souza explica que o delito é cometido por quadrilhas que se organizam e dividem tarefas, entre elas a captação dos dados. “Há duas formas para conseguir os dados das vítimas: em uma página falsa na internet ou com o aliciamento de funcionários de bancos”, detalha.

Identificado algum sinal de fraude, é preciso ir ao banco ou à operadora do cartão comunicar o ocorrido. Na instituição financeira será disponibilizada uma carta, que deve ser escrita a mão com todas as informações existentes. O cartão clonado será cancelado e o prejuízo pode ser ressarcido.

O advogado Cristiano Diehl Xavier, especialista nesta área, avalia que os consumidores têm, basicamente, a mesma atitude: falta de atenção. “É preciso observar a fatura e os lançamentos. Existem cuidados básicos que costumamos deixar de lado”, alerta.

Ponto de Vista

“O criminoso está mais especializado nesse tipo de fraude. Existem falhas ou riscos no processo que precisam ser controlados, e ainda existe o descuido de usuários”, diz Jorge Fernandes, doutor em Ciência da Computação e professor da Universidade de Brasília. De acordo com ele, os cartões com chip são mais seguros. Ou melhor, menos difíceis de serem clonados. “Eles têm capacidade de armazenar os dados de forma criptografada e têm memória maior. É muito mais difícil passar por fraudes, já que a tecnologia a ser investida é ainda mais especializada”, explica. Além disso, ele entende que os riscos na internet são maiores: “Não se usa o cartão físico, mas apenas os dados, e isso é perigoso. No mundo virtual, os números representam as próprias pessoas”. Ter mais cuidado com as informações passadas, com os sites acessados e documentos descartados são formas de se precaver.

Contas devem ser acompanhadas

O consultor Henrique Mendes fez o pagamento com o cartão de poupança, que não costuma usar com frequência. O problema foi descoberto quando ele decidiu fazer um investimento na conta e investigou as últimas transações. “Passaram o cartão em Minas Gerais, São Paulo e Mato Grosso. De uma só vez foram R$ 300 em combustível”, conta. Ele foi ao banco e o atendente sugeriu que fosse à delegacia fazer a ocorrência e o orientou a elaborar uma carta, explicando o acontecimento.

“Foi tudo muito rápido. O banco começou a me ressarcir no dia seguinte, mas ainda é preciso aguardar a investigação. Assinei um contrato e, caso a clonagem não seja confirmada, vou ter que devolver o dinheiro”, explica.

O advogado Cristiano Diehl Xavier defende que os usuários tenham um controle maior das contas bancárias: “Não precisa entrar todos os dias, mas pelo menos duas vezes na semana para conferir se está tudo em ordem”.

Tecnologia

Com o avanço tecnológico, a chegada do home-banking e as compras online, em apenas alguns cliques é possível fazer compras, pagamentos e transferências. Brasília já é a 4ª cidade que mais compra pela internet no Brasil e o ambiente pode não ser totalmente seguro. Casos suspeitos atingiram cerca de 3,6% das operações de compras virtuais no ano passado, de acordo com dados da ClearSale, empresa especializada em detectar fraudes.

A servidora pública Jussemara da Costa, 58, relata que foi vítima de golpes pelo menos duas vezes. “Estava efetuando uma compra de um computador pela internet e de repente me pediram uma senha de uma ferramenta de pagamentos online que eu nunca fiz cadastro”, lembra.

Segundo ela, uma pessoa desconhecida conseguiu seus dados, fazia compras com seu cartão de crédito e fez o cadastro. Há três meses, realizaram outra compra, parcelada, em uma loja de informática em Recife. Nas duas ocasiões, Jussemara solicitou à operadora do cartão o cancelamento.

Ela não registrou boletins de ocorrência para apurar os casos e nunca descobriu a origem dos golpes. “Meu tempo é curto, deixei pra lá”, justifica. No entanto, o delegado-chefe da Difraudes, Joás de Sousa, afirma que “é preciso ir à delegacia denunciar qualquer tipo de fraude. Assim, iniciamos uma investigação policial. Já tivemos sucesso em desbaratar algumas organizações criminosas que são estruturadas”.

Riscos em números

Até o dia 10 de setembro, o Procon recebeu 24 reclamações de roubo de cartão no DF. No ano passado, foram registrados 59 casos.

Pesquisa da ACI Worldwide aponta que 12% dos brasileiros costumam escrever o código no próprio cartão ou andar com ele anotado em um papel, facilitando a ação de criminosos.

Segundo pesquisa da Conversion, o uso de celulares e tablets para compras virtuais é cada vez maior no Brasil. Um em cada cinco visitantes no comércio eletrônico já utiliza dispositivo móvel, sendo que mais de 10% das vendas pela internet são efetuadas por esses equipamentos portáteis.

Joás de Souza, delegado da Difraudes, alerta que a clonagem de cartões com chip existe e, atualmente, está se tornando comum. Segundo ele, mesmo com esse tipo de objeto, é preciso ter atenção redobrada.

Para evitar golpes, é recomendado cuidado com os terminais eletrônicos, que ficam fora das agências bancárias. É importante verificar se há alguma peça encaixada de forma suspeita e observar se há micro-câmera voltada para o teclado.

MEMÓRIA

No mês passado, uma quadrilha especializada em clonagem de cartões foi desarticulada pela Polícia Civil. Os acusados teriam desviado cerca de R$ 10 milhões das vítimas em pouco mais de um ano de atuação. No momento da abordagem, em um apartamento alugado em Águas Claras, cinco homens e uma mulher fabricavam cartões falsos. Com eles, os policiais apreenderam computadores, impressoras de alta tecnologia, televisores, dinheiro, documentos e dezenas de cartões. A PCDF também encontrou seis carros, joias, perfumes e relógios de luxo.

Mudança de hábitos para evitar golpes
Com o aumento das fraudes, muitos usuários têm mudado de hábitos. Segundo a pesquisa da ACI Worldwide, 61% dos consumidores brasileiros optaram por usar outras formas de pagamento, como dinheiro, depois de terem sido vítimas de golpes.

Exemplo disso é a comerciante Maria Aparecida Silvério, 58 anos. Ela mudou a rotina após ter seu cartão clonado. “Tiraram todo o dinheiro da minha conta. Ainda foram legais e deixaram R$ 50”, lembra. Além disso, fizeram compras em locais que ela nunca esteve. Como consequência, mudou de banco, evita usar o cartão e rasga todos os papeis. “Não pode jogar inteiro, tem todos os dados lá”, afirma.

Os cuidados de Maria vão de encontro ao que pensa o advogado Cristiano Dihel Xavier. “Extratos, faturas ou qualquer documento em papel devem ser destruídos antes de serem colocados no lixo doméstico. As informações existentes lá podem ser identificarias e utilizadas por quadrilhas. Esse é um cuidado fundamental, assim como conferir todas as compras da fatura física”, afirma.
Mesmo com as recomendações, boa parte da população ainda não adota medidas de segurança básicas. Cerca de 30% dos brasileiros jogam documentos com números de contas bancárias no lixo. O percentual é mais que o dobro do apresentado nos Estados Unidos e no Canadá.

Diante do cenário preocupante, Xavier destaca que o home-banking costuma ser seguro: “Os bancos investem bastante em tecnologia para se adequar às necessidades do consumidor. Mas se o aparelho usado é pessoal, as chances de informações vazarem são menores”.

Fonte: Portal da Segurança 

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